O estudo mostra que, mesmo com a força das lojas físicas, visitadas em média mais de três vezes por semana por 97% dos consumidores, o ambiente digital já ocupa espaço relevante no orçamento mensal. Cerca de 22% das compras acontecem online, muitas delas ligadas a conveniência, promoções sazonais e, cada vez mais, a categorias de entretenimento digital, que se tornaram parte essencial da rotina de consumo.
Serviços como pagamentos por aplicativo, programas de fidelidade integrados e ofertas personalizadas estimulam a adesão ao canal online. No campo do lazer, essa tendência é ainda mais evidente: consumidores experimentam opções híbridas que unem socialização e diversão, como jogos digitais e apostas. Muitos, por exemplo, exploram
onde jogar poker gratuitamente, testando plataformas antes de decidir por uma fidelização de longo prazo. Essa lógica de “experimentar antes de comprar” reflete-se em várias dimensões do consumo digital.
Apesar dessa evolução, bens de necessidade contínua, como alimentação e higiene, permanecem fortemente ligados ao físico, reforçando o apego prático e emocional entre consumidor e ponto de venda tradicional. Assim, o futuro do consumo revela-se híbrido: físico para o essencial e digital para conveniência e
entretenimento.
Crescimento pontual nos canais tradicionais
O estudo também aponta desempenhos distintos entre os tipos de estabelecimentos. Hipermercados registraram um crescimento de 1,6% no volume de vendas, sustentados por ações promocionais com maior impacto e sortimentos mais amplos. Supermercados seguiram a mesma tendência, ainda que de forma mais modesta, com alta de 1,1%. Em contrapartida, os chamados discounts, estabelecimentos focados exclusivamente em preços baixos, registraram queda no período analisado, sinalizando uma possível saturação no modelo pautado apenas pela conveniência de preço.
Este desempenho reforça a necessidade de oferecer mais do que apenas economia. Elementos como experiência de compra, ambientação e serviços adicionais tornam-se decisivos para captar e manter o cliente, especialmente em um cenário onde as alternativas estão a poucos cliques de distância. O consumidor, mesmo sensível a preços, demonstra crescente valorização por marcas que entregam valor de forma mais ampla, incluindo tempo, atendimento e integração multicanal.
Nos hipermercados, promoções combinadas com sugestões de uso e sortimentos diversificados ampliaram o tíquete médio. Já os supermercados apostaram em categorias frescas, como padaria e hortifrúti, para gerar tráfego e aumentar o valor percebido. Estratégias híbridas, como o clique e retire, também ganharam relevância, embora ainda não tenham atingido massa crítica nas regiões analisadas.
Fidelização: cafés, pets e cervejas lideram
Em termos de fidelização por categoria, os números variam conforme a natureza do produto e o perfil do consumidor. O café, por exemplo, aparece como a categoria com maior índice de fidelidade, com 43% dos consumidores mantendo regularidade na compra sempre da mesma marca ou tipo. Alimentos para animais também demonstraram alto grau de recorrência, com 39% dos entrevistados indicando preferência estável por determinadas marcas.
A cerveja figura em terceiro lugar, com 35% fidelização, reflexo não apenas de preferência gustativa, mas também da
força do marketing em torno de marcas consolidadas. Em contraste, categorias como snacks (11%) e produtos biológicos (9%) mostram níveis significativamente mais baixos de fidelidade. Nestes casos, o consumidor parece mais propenso a experimentar ou alternar de acordo com disponibilidade, preço ou promoção.
Marcas próprias, associadas tradicionalmente aos preços mais baixos, registraram participação expressiva, principalmente nas categorias de higiene e limpeza, onde alcançam até 92% de penetração. Essa dominância ocorre, em grande parte, devido ao avanço qualitativo das linhas próprias e à crescente confiança dos consumidores em relação à performance e segurança desses produtos.
Perfis de consumo fragmentados e suas implicações
A segmentação comportamental proposta pelo relatório divide os consumidores em quatro grandes perfis. O maior grupo é o dos Constrained (29%), formado por consumidores que enfrentam fortes limitações orçamentárias e priorizam apenas itens essenciais. A seguir, os Deal Seekers (28%) representam aqueles que buscam ativamente promoções, cupons e vantagens, ainda que mantenham certa flexibilidade na escolha de marcas.
O grupo Attentive (25%) é composto por consumidores mais racionais, que planejam suas compras com antecedência, com atenção ao valor nutricional, marcas e origem dos produtos. Por fim, os Engaged (18%) são descritos como os mais engajados emocionalmente com suas marcas favoritas, tendendo a priorizar experiência e qualidade antes do preço.
As implicações desta fragmentação são relevantes não apenas para as decisões de sortimento, mas também para as estratégias de Retail Media. Com perfis tão distintos, as campanhas precisam ser mais direcionadas, utilizando dados comportamentais para personalizar a jornada de compra. Ofertas genéricas tendem a ser menos eficazes em um ambiente de atenção dispersa e múltiplos canais de influência.
Estratégias precisas para um consumidor volátil
Em um ecossistema de consumo marcado por conveniência, fidelidade intermitente e exposição constante a estímulos, o varejo precisa mais do que nunca de ferramentas analíticas e agilidade de execução. A convivência entre o físico e o digital não deve ser encarada como transição, mas como complementação de jornadas adaptáveis a cada perfil.
O estudo revela que o consumidor atual valoriza opções, mas responde à consistência. Para além do preço ou proximidade, a decisão de compra passa cada vez mais por elementos subjetivos, como familiaridade com a marca, experiência de uso e até o papel percebido do varejo na comunidade.