BICHOS

Nossa existência tem uma duração reduzida e limitada. Como vivemos esse tempo e aproveitamos essa possibilidade? Estamos presos a um padrão normativo que, como acontece com Mago, leva à anulação individual, perdendo a essência selvagem, ou nos tornamos um agente que, como Vicente, segue um ideal de liberdade para sermos nós mesmos, com plena independência e inconformismo. 

BICHOS é uma performance baseada na peça homônima de Miguel Torga que tenta focar questões fundamentais sobre a sociedade e a própria existência. 

Animais humanizados ou humanos quase animalizados aparecem aqui lutando consigo mesmos, com seu ambiente de vida ou com o Divino. Esses animais, diferentes entre si, fazem todos parte da mesma Arca de Noé; um lugar e uma terra-mãe onde todos têm a mesma luta pela vida e pela liberdade. São dilemas humanos compartilhados por humanos e animais, onde o Homem é apenas mais um animal entre eles. Na obra de Torga, a evolução afastou o Homem da natureza, condenando-o ao infortúnio, e com **BICHOS** ele viaja em busca de sua essência selvagem, seus instintos puros, questionando-se sobre Deus, liberdade, sociedade e sua relação com o indivíduo. 

Pensando que nenhum de nós tem um lugar especial na criação, lembramos aqui que viver não é suficiente. A dignidade humana nos obriga a viver em liberdade para tornar a vida digna de ser vivida; e a rebeldia, que não aceita domesticação ou conformismo, é o único caminho seguro para cada um encontrar seu próprio papel no coletivo, sem perder sua liberdade. 

 Nossa existência tem uma duração reduzida e limitada. Como vivemos esse tempo e aproveitamos essa possibilidade? Estamos presos a um padrão normativo que, como acontece com Mago, leva à anulação individual? 

Rui Lopes Graça (o coreógrafo)